top of page

Tem alguma coisa errada comigo

  • Foto do escritor: Tais Tozatti
    Tais Tozatti
  • 6 de fev. de 2024
  • 3 min de leitura

pegadas na areia

Atena é uma mulher de 35 anos, com uma vida normal, é uma arquiteta bem sucedida. Sempre gostou de sair à noite para dançar e se divertir. Nunca quis ter 1 namorado só, achava isso um tédio. O lance era aproveitar a vida e cada noite sair e transar com um homem diferente, isso sim a fazia sentir viva!

Até tentou ter um relacionamento com Zeus, ficaram casados por 4 anos, mas ele era bonzinho demais, certinho demais e ela não aguentou o tédio e se separaram.

Aos 34 anos teve um segundo infarto, precisou fazer um procedimento cirúrgico invasivo que deixou sequelas no seu corpo, e pela primeira vez ela se perguntou: "Por que um infarto de novo?" Começou a se sentir sozinha, com o uso dos remédios já não podia beber e não sentia vontade de sair à noite para dançar como sempre fez.

Zeus por ironia do destino casou-se com uma grande amiga de Atena, viviam uma vida tranquila, e outra pergunta lhe veio a mente: “Por que não consegui me relacionar com um homem só?”

Pela primeira vez Atena resolveu procurar uma terapia online para lhe ajudar a entender as perguntas que estavam na cabeça dela e também aquele sentimento de culpa por ter transado com tantos homens, inclusive homens casados.

Na primeira sessão ela contou como sempre foi safada desde a infância, aos 5 anos ia na casa de um vizinho de uns 20 poucos anos que passava a mão nela, ela gostava e sempre voltava, nunca contou para ninguém, essa era a primeira vez. Para surpresa de Atena a Terapeuta não a condenou, e sim começou a falar que ela era só uma criança, e que parecia errado que um homem tivesse esse tipo de comportamento com uma criança de 5 anos. Contou como uma criança é inocente, precisa de proteção e segurança. A Terapeuta quis saber onde os pais de Atena estavam quando ela ia à casa do vizinho. Atena nunca havia pensado sobre isso, e começou a querer chorar sem saber o porquê.

Muitas outras sessões aconteceram e ela descobriu que sofreu abuso sexual desse vizinho, e o fato de ela ter “gostado” do que ele fez, não significava que ela era safada, e sim que é natural uma criança gostar de ser acariciada, pois toda criança precisa de vínculo. Especialmente quando ela não recebe isso dos seus pais, dos cuidadores. E que muitos abusadores parecem bonzinhos exatamente para que a vítima volte e não conte para ninguém.

A cada sessão Atena teve oportunidade de lamentar o trauma do abandono e os abusos que sofreu na infância, e de compreender que ter tido relações sexuais com muitos homens, foi uma defesa que ela criou inconscientemente para não ter intimidade e não ser abusada novamente. Como ela não conseguiu controlar o corpo dela – aos 5 anos – durante os abusos, ela se sentiu traída pelo corpo, pois ela “gostou”. Transar com muitos homens a fazia sentir-se no controle. Já sua experiência com Zeus ela se sentiu fraca, vulnerável, dominada e por isso, ela livrou-se “dele”, mas a verdade é que ela não aprendeu a lidar de uma forma saudável com intimidade, ou seja, era desconhecido para ela.  

Pouco a pouco, Atena foi aprendendo a se conhecer mais e a se cuidar. Não sabia quanto tempo levaria para reconstruir a própria vida, se sentir merecedora de amor e aprender a ter relacionamentos saudáveis. No entanto, não tinha pressa, se sentia aliviada por ter tomado a decisão de ressignificar o passado e estar transformando sua vida.

bottom of page