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Você é uma pessoa boa?

  • Foto do escritor: Tais Tozatti
    Tais Tozatti
  • 6 de fev. de 2024
  • 3 min de leitura
2 algemas abertas no chão nevado com pegadas e o sol

Afrodite é conhecida como a “mãezona” pelos amigos e vizinhos. Sempre pronta para ajudar, dar um conselho, emprestar uma grana, fazer uma compra, o apelido dela poderia ser mulher maravilha.

Aos 40 anos, administra a casa, os filhos, o marido e ainda é gerente de um dos hotéis da cidade turística onde mora.  Apesar de ser gerente, quando os funcionários que limpam os quartos não fazem o serviço bem feito – e é o que mais acontece – Afrodite, muito trabalhadora e humilde vai lá e limpa do jeito certo. Seus patrões a adoram, como se ela fosse da família, inclusive quando acontece uma emergência no hotel, eles ligam para ela e em minutos ela está lá pronta para resolver tudo! Mesmo nos dias de descanso. E ela diz com orgulho: “O que seriam de vocês sem mim!”

Mas havia uma pessoa que Afrodite cuidava desde os 5 anos de idade - seu irmão Apolo hoje com 35 anos – ela se sentia como a segunda mãe dele, no entanto ele a xingava e nunca gostou do jeito da irmã, sempre muito preocupada com ele, perguntando onde foi, se estava se alimentando, e reclamando que ele só a procurava quando era do interesse dele. Um belo dia ele mandou uma mensagem dizendo que estava morando em outro país, Afrodite começou a sentir o coração disparar, suar e a respiração muito ofegante e foi levada para um pronto socorro, não conseguia acreditar que ela nunca soube dos planos dele de morar em outro país, e que não se despediu dela.

Foi atendida por uma médica que ao ouvir Afrodite, disse: “Seu mal estar é de fundo emocional, você precisa fazer Terapia, cuidar da sua saúde mental.”  Afrodite levou um susto ao ouvir isso, porque para ela quem precisa de terapia é gente doida, não ela, uma pessoa que só faz o bem. Voltou para casa desconsolada, triste pela atitude do irmão e assustada com essa prescrição médica. Virou para a amiga que a acompanhou até o hospital e disse: “O que eu faço agora?” A amiga de Afrodite lhe passou o contato de uma Terapeuta.

Afrodite entrou em contato com a Terapeuta, conto tudo o que aconteceu e não entendeu porque a Terapeuta começou a perguntar da infância dela. Ela achou que a Terapeuta ia dizer algo prático e rápido para resolver o problema que o irmão causou na vida dela! Com impaciência contou que ela sempre foi uma excelente filha, nunca deu trabalho, foi ótima aluna e desde que o irmão nasceu ela cuidou dele como um filho! A Terapeuta calmamente olhou para Afrodite e perguntou: “Você já prestou atenção em uma criança de 5 anos?” Afrodite, mais nervosa ainda respondeu: “Claro! Eu tive 2 filhos, uma criança de 5 anos adora brincar, correr, fazer barulho.” A Terapeuta perguntou: “E você acha certo que uma criança cuide de um bebê?” Afrodite desabou, não conseguiu controlar o choro e os soluços. Foi acolhida pela Terapeuta, que dizia: ”Você era só uma criança.”

A cada sessão Afrodite entendeu que para se sentir aceita pelos seus pais, criou esse personagem de menina boazinha, estrela e super realizadora e que até agora continua encenando esses papéis – de forma inconsciente – pois só assim ninguém irá abandoná-la. No entanto, se sentiu abandonada pelo irmão e seu plano perfeito desabou. Foi também graças a Terapia que ela descobriu que sofria de codependência  emocional, já que ao não ter suas necessidades de afeto, segurança e proteção atendidas pelos pais, continuou buscando isso nos amigos, vizinhos, trabalho, irmão e por isso, sempre achou que era sua obrigação ajudar todo mundo a sua volta e não parou para cuidar dela mesma. A Terapeuta sugeriu que ela visitasse uma reunião de um grupo de 12 passos que ajuda pessoas a se recuperarem da codependência.

Pouco a pouco, Afrodite foi aprendendo a cuidar de si mesma, ressignificar o passado e entendendo que ela pode escolher se vai ou não ajudar alguém, ela continua sendo uma pessoa importante.

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